What's wrong with my tongue/ These words keep slipping away/ I stutter I stumble/ Like I've got nothing to say/ I'm feeling nervous/ Trying to be so perfect (Avril Lavigne)

Tuesday, March 21, 2006

Crítica

EUROPA - Lars von Trier (1991)


Estamos em Outubro de 1945, Leopold Kessler (Jean-Marc Barr), um americano descendente de alemães parte para a Alemanha no momento que corresponde à Stunde Null (hora zero), os primeiros tempos após a capitulação da Alemanha e consequente fim da Segunda Guerra Mundial.
O seu destino leva-o até ao seu tio que trabalha numa companhia ferroviária - a Zentropa - que controla grande parte dos caminhos de ferro na Alemanha. É lá que ele vai trabalhar, numa carruagem-dormitório e é lá também que tudo acontece.
É neste comboio que ele conhece Katerina Hartmann, filha do dono da companhia ferroviária, e por quem se apaixona, mas mais tarde vem a descobrir que ela não é bem aquilo que ele pensava, ele confia nela, mas ela trai-lhe essa confiança. Aliás, ele apercebe-se de que desde que chegou àquele comboio, toda a gente o enganou.
Com o decorrer do filme vemos que aquele comboio é símbolo de progresso, progresso esse que se estava de novo a iniciar na Alemanha pós-guerra . O comboio aqui não é só visto como transporte de grande velocidade (para a época) e de transporte de pessoas e mercadorias, mas também um transporte de fuga contra o tempo, contra os momentos de repressão e sofrimento vividos nos campos de concentração.
O filme é uma constante corrida contra o tempo, contra o passado da Alemanha. A acrescentar a isto temos a marginalidade, as organizações secretas que operavam na Alemanha do pós guerra contra os americanos e mesmo contra os próprios alemães como é o caso da Werwolf (Lobisomem). Durante o dia aparentavam ser uma coisa e à noite agiam de forma completamente diferente e chamando à sua causa todo o tipo de pessoas que eles achassem ser capazes de colaborar com eles, inclusivé crianças. É neste meio que Leopold se envolve e ao mesmo tempo tem que controlar toda uma carruagem e atender todas as pessoas da alta sociedade que nela vão.
Ao longo de uma cena em que Leopold é chamado a ajudar numa outra carruagem, é possível ver uma desclassificação social ao longo de cada carruagem que ele passa . É aqui que chegamos a uma carruagem onde estão homens muito magros, ossudos, quase nus que nos remete logo para as imagens mais que divulgadas dos judeus e outros homens que eram levados em vagões para os campos de concentração .
Por isso assistimos ao suicídio de Lawrence Hartmann, pai de Katerina, pelo seu sentimento de culpa em ter andado a transportar judeus para a morte e, dum momento para o outro, quando os Aliados invadiram a Alemanha, ter transportado soldados americanos em 1ª Classe.
Todo o filme é “controlado”, seguido por um narrador hipnotizante, que vai contando o tempo e controlando tudo o que a personagem faz, é quase a voz da consciência da personagem, voz essa que pertence a Max von Sydow, celebrizado em filmes de Ingmar Bergman. É uma voz quente, por vezes um pouco tenebrosa que alcança os objectivos deste filme.

Filme espectacularmente bem feito, violento, sem grandes artifícios a não ser o contraste de cor e preto/branco que dá uma visão muito mais ampla das imagens, para além de uma série de premeditações do que mais tarde vem a acontecer no filme.
Este é o último filme de uma trilogia (“Forbrydelsens element”, 1984 e “Epidemic”, 1987), que pretende “assombrar” a Europa durante os próximos anos, por tudo o que aconteceu e para que obviamente não volte a acontecer. Por isso o nome ser tão sugestivo e no entanto o único país referido ser a Alemanha . Naquela época, a Alemanha tornou-se o centro da Europa, a Europa no seu todo pois controlava todo o continente dentro da sua política de repressão. E por isso um comboio que faz viagens de longa distância, para chegar a todos os cantos da "Europa".

Por tal obra prima, este filme ganhou dezasseis prémios dos dezoito para que estava nomeado, entre eles o prémio do júri de Cannes, a Palma d’Ouro, Melhor Realizador no Fantasporto e muitos outros de festivais internacionais.

1 Comments:

Blogger Sílvia S. said...

Sem dúvida que o Holocausto é a sombra que paira -e pairará ainda por mto tempo - sobre a Europa.
Como foi possível é pergunta para a qual ainda não conegui resposta/apaziguamento.Mas foi sem dúvida, o Drama do século e a mácula que retirou a Europa em definitivo do seu conto de fadas da Cultura.

Estou só a pensar alto.*

4:38 PM

 

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