What's wrong with my tongue/ These words keep slipping away/ I stutter I stumble/ Like I've got nothing to say/ I'm feeling nervous/ Trying to be so perfect (Avril Lavigne)

Monday, March 20, 2006



1
Só esta liberdade nos concedem


Só esta liberdade nos concedem
Os deuses: submetermo-nos
Ao seu domínio por vontade nossa .
Mais vale assim fazermos
Porque só na ilusão da liberdade
A liberdade existe.

Nem outro jeito os deuses, sobre quem
O eterno fado pesa,
Usam para seu calmo e possuído
Convencimento antigo
De que é divina e livre a sua vida.

Nós imitando os deuses,
Tão pouco livres como eles no Olimpo,
Como quem pela areia
Ergue castelos para encher os olhos,
Ergamos a nossa vida
E os deuses saberão agradecer-nos
O sermos tão como eles.


2
Anjos ou deuses sempre nós tivemos


Anjos ou deuses sempre nós tivemos
A visão perturbada de que acima
De nós compelindo-nos
Agem outras presenças.

Como acima dos gados que há nos campos
O nosso esforço, que eles não compreendem,
Os coage e os obriga
E eles não nos percebem,

Nossa vontade e o nosso pensamento
São as mãos pelas quais outros nos guiam
Para onde eles querem
E nós não desejamos.




3
Não a ti, Cristo, odeio ou não te quero


Não a ti, Cristo, odeio ou menosprezo
Que aos outros deuses que te precederam
Na memória dos homens.
Nem mais nem menos és mas outro deus.

No Panteão faltavas. Pois que vieste
No Panteão o teu lugar ocupa,
Mas cuidando não procures
Usurpar o que aos outros é devido.

Teu vulto triste e comovido sobre
A ‘steril dor da humanidade antiga
Sim, nova pulcritude
Trouxe ao antigo Panteão incerto.

Mas que os teus crentes te não ergam sobre
Outros, antigos deuses que dataram
Por filhos de Saturno
De mais perto da origem igual das ciosas,

E melhores memórias recolheram
Do primitivo caos e da Noite
Onde os deuses não são
Mais do que estrelas súbditas do Fado.

Tu não és mais que um deus e mais no eterno
Não a ti, mas aos teus, odeio, Cristo.
Panteão que preside
À nossa vida incerta.

Nem maior nem menor que os novos deuses,
Tua sombria forma dolorida
Trouxe algo que faltava
Ao número dos divos.



Ricardo Reis, Odes

2 Comments:

Blogger Sílvia S. said...

Andamos a brincar aos deuses, é verdade. Adiante...
Ricardo Reis, o tortuoso, não é o meu heterónimo preferido nisso sou bem comum, gosto mm é do Caeiro : "Sinto todo o meu corpo deitado na realidade, sei a verdade e sou feliz", sao palavras que ecoam bem fundo dentro de mim.

4:45 PM

 
Blogger Sílvia S. said...

Ah...
Com três imagens n querias que ensarilhasse? XD mas são bonitas, valeu bem a pena a chatice.

4:46 PM

 

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